domingo, 28 de novembro de 2010

O Movimento Estudantil britânico a ferver

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O movimento estudantil britânico não pára de crescer em números e em militância. O mês de Novembro tem visto muitos estudantes, professores e funcionários nas ruas em protesto contra a subida abismal das propinas (que de cerca de £3000/ano passam a ter o valor de até £9000/ano) e contra outros cortes orçamentais na área da educação.

De notar será o facto de que Nick Clegg, actual Vice-Primeiro-Ministro e líder dos Liberal Democrats, prometeu, durante a campanha electoral, não subir as propinas e até defendeu acabar com as mesmas, faseadamente. A coligação governante Conservative-Liberal Democrats propôs também o corte no orçamento do ensino em 80%; o corte completo do financiamento estatal nas áreas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais; e o fim d@ Education Maintenance Allowance, uma bolsa a que os adolescentes mais desfavorecidos têm direito e que os ajuda no pagamento de material escolar e transportes, um grande incentivo (ou condição!) para que permaneçam no sistema educativo.

No passado dia 10 de Novembro 52 mil estudantes manifestaram-se nas ruas de Londres, naquela que foi a maior manifestação estudantil das duas últimas décadas. Tomadas as ruas de Londres, os estudantes procederam à ocupação da sede do partido Conservador, situada no edifício Millbank. A fúria dos estudantes foi sentida através de algumas janelas partidas (que fizeram as capas de todos os jornais no dia seguinte), mas principalmente por uma multidão que não cessou de apoiar a alto e bom som aqueles que se encontravam dentro do edifício e no telhado do mesmo. Infelizmente, a liderança da NUS (National Union of Students), condenou arduamente o ataque às janelas da sede dos Tories, em vez de apontar o dedo aos verdadeiros vândalos, que ocupavam o edifício Millbank muito antes do dia 10.

A força das acções do dia 10 inspiraram a Universidade de Manchester a participar numa ocupação-flash, a Universidade de Sussex a ocupar um auditório durante 5 dias e a convocação de mais um dia nacional de acção, desta feita para o dia 24 de Novembro. A passada Quarta-feira 24 foi marcada por manifestações por todo o país, tendo 130 mil estudantes participado nos protestos. Nas manifestações estiveram presentes muitos alunos do 2º e 3º ciclos e secundário, que saíram das suas salas de aula às 11 da manhã, numa espécie de greve de estudantes. Horas mais tarde, muitos foram confrontados pela primeira vez com abuso policial. A táctica de “kettling” foi amplamente usada, tendo havido relatórios de grupos confinados em pequenos espaços durante 9 horas.

Na manifestação em Brighton um edifício dos Paços do Concelho foi brevemente ocupado, assim como uma loja da Vodafone, empresa que deve ao fisco £6 mil milhões. Um edifício da Universidade de Brighton foi também ocupado com sucesso, até à data. O mesmo aconteceu com mais cerca de 20 universidades por todo o país, a maioria das quais sem grande história recente de protestos ocupacionais. A onda de ocupações mantém-se, existindo entre elas grandes laços de solidariedade que se fomentam com a ajuda de tecnologia (skype, twitter, facebook, blogs,…).

Há um grande sentido de união e um desejo enorme de transformar o conceito da universidade. Uma ocupação não é só uma forma de protesto, mas um espaço que os ocupantes utilizam para promover discussões e diálogos sobre a educação que gostariam de promover e receber, sobre as lutas que se interligam às suas, sobre melhores maneiras de combater o governo Conservador nos seus ataques aos serviços públicos. Uma ocupação é um espaço de pensamento verdadeiramente livre.

Os dias 10 e 24 de Novembro foram só o início de uma grande batalha. Já foram convocados outros dois dias nacionais de acção contra cortes na educação: 30 de Novembro – esta próxima 3ª-Feira – e dia 5 de Dezembro – Domingo. As expectativas são altas. Os estudantes estão prontos. A hora: revolta.

Texto escrito para A Garra,

Catarina Carvalho, estudante da Universidade de Sussex

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