domingo, 1 de março de 2009

Ensino Superior: Acesso não é apenas uma questão de mérito individual, destaca estudo

Os cursos do ensino superior com médias mais altas, como Medicina, Belas Artes e Farmácia, são preenchidos "por alunos sobretudo provenientes de famílias favorecidas", salienta um estudo do Observatório dos Percursos dos Estudantes da Universidade de Lisboa (UL), que sublinhando a diversificação social da população universitária que a universalização da escolaridade obrigatória proporcionou, conclui porém que o acesso ao ensino superior não é apenas uma questão de mérito individual.

O estudo "À entrada: os estudantes da Universidade de Lisboa, 2003-2008. Números e Figuras", coordenado pela socióloga Ana Nunes de Almeida, está disponível no site do Observatório dos Percursos dos Estudantes da Universidade de Lisboa.

O estudo destaca que a chegada massiva de estudantes ao ensino superior, a partir da década de 80 do século passado, é acompanhada por "um jogo social de duas faces : reprodução de condições favorecidas herdadas para uns, mobilidade relativamente às condições de partida para outros". Provavelmente, segundo o estudo, isso quererá dizer que as antigas barreiras à entrada se transferiram para o interior do ensino superior.

Assim, os cursos com médias de acesso mais altas, são preenchidos maioritariamente por estudantes originários de famílias favorecidas ( quadros dirigentes e superiores das empresas ou da administração pública, especialistas das profissões científicas e intelectuais, técnicos e profissionais de nível intermédio, na posse de diplomas do ensino superior ou secundário). Nos outros cursos a maioria é composta por estudantes com origem social mais desfavorecidas.

No entanto, a maioria (60%) dos caloiros da UL são filhos de famílias favorecidas.

O estudo conclui que: "As desiguais vias de acesso não são portanto apenas um resultado do mérito individual mas traduzem o impacto das condições familiares de origem, vividas num cenário de selecção social".

As autoras salientam também a feminização do ensino superior: a maioria dos caloiros,assim como dos licenciados neste período, em todas as faculdades (com excepção da Faculdade de Ciências para os anos lectivos de 2006/2007 e 2007/2008), são do sexo feminino.

Quanto à origem regional o estudo refere traços de continuidade em relação ao passado: "os caloiros provêm esmagadoramente da área metropolitana de Lisboa e da Península de Setúbal".

O padrão dominante é o de estudantes vivendo e dependentes dos pais: Há uma baixa percentagem de estudantes deslocados (1/3) e dos que têm uma actividade profissional (20%).

Por fim, as autoras do estudo destacam ainda que o 'numerus clausus' afasta muitos dos candidatos do curso ou da instituição da sua primeira escolha (35% na UL), o que poderá explicar as taxas de "insucesso" em certos cursos, preenchidos por segundas ou terceiras escolhas.

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