Os jovens universitários portugueses são mais afectados pelo desemprego de longa duração do que a média dos universitários desempregados nos restantes países da OCDE. A constatação é válida também para os jovens desempregados que não completaram o ensino secundário, segundo o relatório “Education at a Glance”, que foi ontem divulgado e que é mais vasta compilação de dados sobre os sistemas educativos daquele espaço económico composto por 30 países.
Trabalhando com dados de 2007, o relatório mostra que o desemprego de longa duração afecta 51 por cento dos desempregados portugueses com diploma universitário e idades entre os 25 e os 34 anos. Na média dos países da OCDE, esta taxa é de 42 por cento.
Se a comparação for entre os desempregados da mesma faixa etária mas com qualificações abaixo do ensino secundário, o peso do desemprego de longa duração sobe: é de 61 por cento em Portugal, contra os 55 por cento da média dos países da OCDE.
Em Espanha, o peso do desemprego de longa duração entre os jovens desempregados da mesma faixa etária é bastante menor: 42 por cento para os desempregados sem o ensino secundário e 39 por cento para os detentores de diploma universitário. Entre 2003 e 2007, Espanha conseguiu, aliás, diminuir em quase nove pontos percentuais o desemprego de longa duração naquelas idades (não há dados comparativos relativamente a Portugal). De toda a maneira, Portugal está longe de ser o mais mal colocado na tabela. Em pelo menos nove países, o desemprego de longa duração ensombra mais de 50 por cento dos desempregados com formação universitária. E está acima dos 60 por cento em países como a Grécia, a Polónia e a Turquia.
Na média dos países da OCDE, o desemprego entre os mais qualificados tendeu a baixar relativamente ao resto da população. Aliás, ter o secundário completo reduz em 6,7 pontos percentuais o risco de desemprego para quem tiver entre 20 e 24 anos. “A ausência do ensino secundário completo é claramente um impedimento sério na obtenção de um emprego”, reforçam os autores.
Contudo, uma vez no desemprego, os jovens nem sempre conseguem o retorno daquilo que investiram na educação. “O benefício da educação na procura de emprego por parte de um desempregado tornou-se menos claro”, lê-se.
Superior com mais 7,5%Em termos gerais, e na média da OCDE, um jovem que em 2007 tivesse 15 anos podia contar com sete meses de desemprego nos anos vindouros e mais 1,3 anos sem trabalhar nem estudar. No caso de países como Portugal (mas também França, Grécia, Polónia...), o período expectável de desemprego é de mais de um ano. Como nos anos que se seguem “as taxas de desemprego devem ultrapassar os 10 pontos percentuais em muitos dos países da OCDE”, os ganhos potenciais que cada um perde por estar a estudar em vez de a trabalhar “serão em muitos casos próximos do zero”. Logo, estes são “tempos excelentes para investir na educação”.
Portugal continua, porém, a integrar o grupo de países com maior percentagem de jovens desempregados em idade escolar (15-29 anos). Em 2007, a situação afectava 7,8 por cento dos jovens, contra os 4,9 por cento da média dos países da OCDE. Porque datados de há dois anos, estes dados não espelharão ainda o programa Novas Oportunidades que o Governo lançou em Dezembro de 2005 com vista a alargar o referencial mínimo de formação até ao 12.º ano de escolaridade.
O relatório aponta Portugal como o único país da OCDE que não registou um aumento, entre 1995 e 2007, na frequência do sistema de ensino por parte dos jovens entre os 20 e os 29 anos, ou seja, com idade para frequentar a universidade. Ao contrário, a percentagem desceu de 22 para 21 por cento. Na média da OCDE, a adesão daqueles jovens à universidade aumentou de 22 para 25 por cento. A Grécia registou aqui um aumento de 14 pontos percentuais. A República Checa, a Finlândia, a Polónia e a Suécia também registaram melhorias da ordem dos 12 por cento.
Tal não significa, porém, que a frequência da universidade tenha diminuído “tout court”. Ao contrário, entre 1998 e 2006, o número de alunos entre os 25 e os 64 anos no ensino superior aumentou 7,5 por cento em Portugal. A OCDE registou um aumento médio de apenas 4,5 por cento.
Na faixa etária dos 15 aos 19 anos, o cenário em Portugal melhorou e muito. A frequência da escola naquelas idades subiu quase dez pontos percentuais, de 68 para 77 por cento. Ainda assim, abaixo da média da OCDE, onde 82 por cento dos jovens naquelas idades estavam, em 2007, matriculados na escola. Uma diferença que tenderá a atenuar-se nos próximos anos, já que, a partir deste ano lectivo, a escolaridade obrigatória em Portugal irá até aos 12 anos de escolaridade ou até aos 18 anos de idade.
Privado pesa 13,5%Um dado curioso é que o ensino privado pesa mais em Portugal do que na média da OCDE em todos os graus de ensino. + No primeiro ciclo do ensino básico, o privado representa 8,5 por cento (2,9 por cento na OCDE). No terceiro ciclo, o peso do privado baixa para os 5,5 por cento (3 por cento na OCDE), voltando a subir no secundário para os 13,5 por cento (5,3 por cento na OCDE). Só no México e no Japão, e nalguns graus de ensino nos Estados Unidos, é que o sector privado tem mais peso do que em Portugal.
Os portugueses são, entre os alunos dos países da OCDE, dos que passam mais tempo na sala de aula: 889 horas por ano, no caso das crianças entre os sete e os oito anos de idade (790 na média dos países da OCDE). Esta relação inverte-se, se atentarmos nas crianças com 15 anos: se forem portuguesas, passam 872 horas/ano na sala de aula, contra 966 horas/ano na média dos países da OCDE. Apesar disso, Portugal continua no no 5.º e 6.º anos a ser o país que menos tempo dedica ao ensino da língua, da Matemática e das Ciências.
Na média da OCDE estas três disciplinas pesam 47 por cento no currículo obrigatório. Em Portugal, pesam apenas 36 por cento. No caso concreto da língua e da literatura, esta ocupa apenas 15 por cento do currículo, enquanto na OCDE o peso é de 23 por cento (25 por cento na média da União Europeia a 19).
in Público