segunda-feira, 13 de julho de 2009

Prazos impedem alunos de entrar no superior em Espanha

Aqui está mais um exemplo de como a tão apregoada "mobilidade" ,principalmente depois do Processo de Bolonha, pode facilmente ser bloqueada com uma simples mudança de calendário.

Notícia no Público
O calendário escolar espanhol é diferente do português e quando no país vizinho acabam as pré-inscrições para a universidade por cá ainda não se sabem os resultados dos exames nacionais do secundário. A diferença - de apenas um dia, em muitos casos - impede centenas de estudantes de rumarem a Espanha.

Esta situação é especialmente significativa em cursos como Medicina, com médias mais elevadas em Portugal. A solução para os portugueses, disse ao PÚBLICO fonte da Universidade de Santiago de Compostela, é esperarem um ano ou optarem por uma licenciatura sem limite de vagas.

O problema surgiu no ano passado, quando a Selectividad (exame que dá acesso à universidade em Espanha) deixou de ser obrigatória para os alunos de outros países ingressarem no ensino superior espanhol. Caso os alunos não se submetam a este exame, que se realiza em Junho, o único factor em jogo passa a ser a média do ensino secundário - um resultado que não chega a tempo por causa das datas em que se realizam os exames nacionais. Esta é normalmente a opção dos portugueses, por terem em geral no ensino secundário médias mais elevadas do que na Selectividad.

Além das notas do secundário, os estudantes precisam de um certificado da Direcção-Geral do Ensino Superior com a média de entrada dos cursos de Medicina em Portugal. O documento pode demorar uma semana a ser emitido e tem depois de ser traduzido e enviado para a Universidade Nacional de Ensino à Distância, em Espanha. É lá que é que feita a conversão das notas para o sistema espanhol, que é cotado de zero a dez e não de zero a 20, como em Portugal.

Em Espanha, na maioria das universidades com Medicina, os prazos terminaram na passada segunda-feira, dia 6 de Julho. Em Portugal, os resultados da primeira fase das provas nacionais foram publicados dia 7. Mesmo que tivessem saído uns dias antes, a morosidade para obter toda a documentação bloquearia o processo.

Muitos alunos portugueses acreditam que a mudança foi feita para evitar que as vagas de cursos requisitados fossem ocupadas por aqueles que, ao não entrarem nas universidades portuguesas, por a média ser mais elevada, rumam a Espanha, onde a média de Medicina não chega aos 17 valores e onde a língua não é uma barreira. As queixas e desabafos multiplicam-se, por exemplo, no site exames.org.

Esta desconfiança foi negada ao PÚBLICO pela Consejería de Educación da Embaixada de Espanha em Lisboa, que assegurou que em termos de calendário "não houve nenhuma mudança" e que o fim da Selectividad obrigatória corresponde à "uniformização do ensino europeu". Por outro lado, "a anterior prova exigida implicava um maior domínio da língua espanhola", altura em que muitos portugueses ficavam afastados por terem notas mais baixas. E estes podem continuar a fazer a Selectividad se desejarem, lembra a embaixada.

No ano passado, em Santiago de Compostela (Galiza), mais de 100 das 350 vagas de Medicina foram preenchidas por portugueses - um número que levou muitos pais de alunos espanhóis a protestarem. Porém, apesar dos protestos, o reitor rejeitou a ideia de colocar quotas no curso.

Cerca de seis por cento dos médicos portugueses que, no ano passado, se inscreveram na Ordem tiraram o curso no estrangeiro, quase metade em Espanha. Isto numa altura em que mais de 1200 portugueses estudam Medicina fora (700 em Espanha). Galiza, Salamanca, Granada e Badajoz são os destinos preferidos. O regresso a Portugal é burocrático e muitos acabam por não voltar, apesar de o Ministério da Saúde estar a estudar a hipótese de trazê-los de volta para colmatar as falhas no Serviço Nacional de Saúde. A assessora da ministra da Saúde, Joana Réfega, adiantou que "estão a decorrer negociações com estudantes portugueses, especialmente em Espanha e na República Checa".

Esta aposta é bem vista pelo bastonário da Ordem dos Médicos. Pedro Nunes ressalva, contudo, que devem regressar com o curso completo e entrar "em igualdade de circunstâncias" com os que frequentaram as universidades portuguesas.

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